Construir com terra é uma prática antiga, mas que hoje em dia, é constantemente utilizada de forma inovadora e sustentável. Exemplo disso é o projeto arquitetônico de bioconstrução “Presença no Hormuz 2”— implementado em uma pequena vila, na ilha iraniana de Hormuz —, utilizando terra ensacada para formar pequenas cúpulas coloridas.
Na ilha localizada na região no Golfo Pérsico, a pequena vila com cerca de 10 mil metros quadrados, tem, ao todo, 200 cúpulas de cores variadas. Os responsáveis por sua construção são arquitetos do escritório ZAV Architects.
O projeto em Hormuz
De acordo com o escritório ZAV, o projeto ‘Presença no Hormuz’ é uma série de desenvolvimentos urbanos realizados na ilha de Hormuz, que busca capacitar a comunidade local com a técnica inovadora de bioconstrução, chamada superadobe.
Na primeira fase do projeto, o escritório construiu um centro comunitário nos mesmos moldes da pequena vila. Já a segunda fase da iniciativa (mostrada aqui) é um edifício multiuso chamado ‘majara’ que une a vida da população local e dos visitantes, tanto cultural quanto economicamente.
“Em um país onde o estado luta com disputas políticas fora de suas fronteiras, todo projeto arquitetônico se torna uma proposta para alternativas de governo interno, fazendo perguntas básicas: quais são os limites da arquitetura e como ela pode sugerir uma alternativa política para a vida comunal? Como pode atingir a agência social ?”, questionam os arquitetos.
Eles ainda explicam que o projeto é um processo contínuo que visa construir confiança ao invés de objetos arquitetônicos.
Como funciona a Técnica de Bioconstrução Superadobe?
A técnica “superadobe” foi desenvolvida pelo arquiteto iraniano Nader Khalili. É um processo de construção, no qual sacos de polipropileno são preenchidos com solo argiloso e moldados de acordo com a estrutura desejada.
Estes sacos são empilhados uns sobre os outros — e cada camada é separada por arame farpado. Isso mantém os sacos no lugar e efetivamente forma as paredes da estrutura. Estima-se que as residências de superadobe podem durar séculos, e sua produção é de baixo custo.
No caso do projeto em Hormuz, foram construídas uma infinidade de pequenas cúpulas em escala, com a técnica de “superadobe”. A pequena escala das cúpulas as torna compatíveis com as capacidades de construção de artesãos locais e trabalhadores não qualificados. “Hoje eles são ‘experts superadobes’ treinados, como se Nader Khalili se multiplicasse exponencialmente”, comemoram.
O colorido do projeto faz referência à topografia da ilha de Hormuz. “Neste projeto, um tapete é tecido com nós granulares, inspirados nas partículas que constituem o ecótono da ilha”, explicam os arquitetos. “Os sacos de areia que criam as partículas espaciais (também conhecidas como cúpulas) são preenchidos com a areia de dragagem da doca de Hormuz, como se a terra tivesse inchado para produzir espaço para acomodação”.
As bioconstruções são capazes de acomodar uma variedade de programas, sendo que a maioria deles oferece acomodação. Outras cúpulas contêm áreas comuns com espaço para os residentes lavarem roupa ou jantarem em um café no local. Também há salas dedicadas ao artesanato, orações e até uma área de informações turísticas.
Outros Exemplos de Bioconstruções
Felizmente, as bioconstruções têm um leque de opções no que se refere a materiais ecologicamente responsáveis. Terra, palha e madeira são alguns dos elementos construtivos usados por uma comunidade rural na República dos Camarões, chamada de Aldeia Warka.
O projeto é conduzido pela organização WarkaWater, do arquiteto italiano Arturo Vittori e tem como base a arquitetura vernacular. Isso significa que são aplicadas técnicas tradicionais de construção e materiais disponíveis localmente, como pedras, bambu e fibras naturais. Além do baixo custo, o grande trunfo do projeto é respeitar a paisagem local – levantando casas harmoniosas com o entorno.