Antes, um campo de futebol com a grama seca e maltratada. Hoje, uma horta agroecológica que alimenta mais de mil famílias no Acampamento Marielle Vive, do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), em Valinhos, no interior de São Paulo.
Para essa transformação acontecer, houve muita dedicação e empenho dos envolvidos. O MST contou com a colaboração dos moradores, o trabalho de uma equipe técnica voluntária e um financiamento coletivo para viabilizar a compra dos insumos. Atualmente, são mais de 30 espécies de hortaliças cultivadas sem nenhum agrotóxico no terreno.
De acordo com o engenheiro agrônomo Edson Hiroshi, um dos pioneiros em horta orgânica no Brasil, a iniciativa mobilizou uma equipe multidisciplinar. Além de Hiroshi, que coordenou a equipe, trabalharam de forma voluntária o técnico agrícola Juliano Fujita, o produtor orgânico Romeu Leite e o engenheiro florestal João Dagoberto dos Santos.
“Criamos um corpo técnico e desenhamos essa intervenção. Foi um trabalho muito intenso e o resultado espetacular”, conta em entrevista ao Universo da Floresta. “Em 45 anos de vida profissional, essa foi a horta mais linda que já vi”, Hiroshi afirma.
Como aconteceu a transformação em horta agroecológica
Inicialmente, a equipe técnica fez um processo de subsolagem da área, a qual por 40 anos funcionou como um campo de futebol. O procedimento tem como objetivo quebrar as camadas do subsolo que podem limitar ou restringir o crescimento das raízes para a horta agroecológica.
Em seguida, foi realizada uma gradagem que permitiu pulverizar o terreno. Só então foi feita a adubação com fosfato, calcário de ostra, esterco de galinha e cobertura com biomassa.
Financiamento Coletivo para a horta agroecológica
Antes mesmo de fazer a horta agroecológica mandala, foi preciso resolver um problema mais urgente: o acesso à água. Após mobilização dos moradores, foi providenciado um caminhão pipa para abastecer a caixa d’água. No entanto, a ação não foi suficiente para irrigar a horta. Recuperar as nascentes que existiam no terreno foi a alternativa.
Para fazer a horta mandala e recuperar as nascentes foi realizado um financiamento coletivo que arrecadou R$ 20 mil destinados para a compra dos insumos e equipamentos.
A organização da Vakinha foi feita voluntariamente pelo Universo da Floresta, plataforma de cursos de sustentabilidade, que utilizou sua rede para conseguir as doações.
Inúmeras vantagens
Além de ter recuperado a vida do solo que estava infértil e degradado, o terreno promove outros benefícios. Os alimentos produzidos pela horta agroecológica abastecem todos os dias a cozinha do acampamento, que atende 1,1 mil famílias. De quebra, ainda incentiva os moradores a melhorarem os hábitos alimentares e cultivarem no quintal outros tipos de hortaliças.
Quando há excedentes, os alimentos são doados para outros assentamentos do MST ou para instituições e hospitais da região de Valinhos.
Para a moradora do acampamento Suely Alves Moreira, a horta orgânica mudou sua vida e a das pessoas que moram lá. “É muito prazeroso a gente conseguir colher na terra o sustento. Aqui a gente está aprendendo e também levando [o aprendizado] para as crianças”, compartilha.
Assista ao vídeo para saber mais sobre o campo de futebol que virou uma horta orgânica: