Você sabia que do cacau, é possível utilizar até seus resíduos? O químico baiano descobriu ser possível produzir cosméticos com resíduos de cacau durante sua tese de doutorado.
Buscando compreender os microorganismos causadores de doenças no cacau no país em fazendas da região de Ilhéus (BA), Fábio Neves dos Santos se espantou com a quantidade de cascas jogadas fora e decidiu pesquisar a matéria-prima mais afundo.
O Início dos Cosméticos Com Resíduos de Cacau
Durante o período de pesquisa, Neves questionou os trabalhadores rurais sobre o destino das cascas. Após descobrir que os resíduos não tinham destino certo, decidiu levá-los para o laboratório da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde realizava sua pesquisa.
“A cadeia (de produção do cacau) tem um desperdício altíssimo, algo muito ruim do ponto de vista ambiental. Quando presenciei isso pela primeira vez, só conseguia pensar que os resíduos certamente poderiam se transformar em outros materiais, com novas aplicações”, relembra o pesquisador em entrevista para o portal NetZero.
No laboratório da universidade, Fábio descobriu uma imensa quantidade de compostos bioativos, com altos teores de vitamina C, proteínas, peptídeos, lignina, celulose e minerais como cálcio, ferro, magnésio, manganês, sódio e zinco.
Todas essas substâncias contêm um alto potencial antioxidante e, consequentemente, fazem o resíduo do cacau, um ingrediente poderoso para produtos alimentícios e cosméticos (além do fato de ser uma substância biodegradável).
A partir disso, dividiu seus esforços acadêmicos para finalizar sua tese inicial e iniciar um novo projeto para o aproveitamento e uso sustentável dos resíduos agrícolas do cacau. Com isso, passou a buscar projetos e programas que pudessem capacitá-lo a transformar sua descoberta em negócio.
Dessa forma, ingressou no programa Biota, da Fapesp, focado no empreendedorismo de pós-graduandos da área de aproveitamento de resíduos e conservação ambiental; e no concurso de formação empreendedora Spin Way, promovido pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha.
O resultado? A criação de dois cosméticos naturais com resíduos de cacau: um creme facial antioxidante e uma loção corporal e a fundação da startup Cacaus Biocosmetics, primeira e única no segmento de cosméticos de resíduos.
Futuro dos Cosméticos Com Resíduos de Cacau
Os cosméticos com resíduos de cacau já passaram da fase de testes e já estão com as patentes solicitadas. Os testes para evitar possíveis irritações cutâneas (assegurando sua segurança, além dos de proliferação e regeneração celular, obtiveram resultados superiores aos esperados.
“Os resultados dos testes in vitro, feitos em modelo celular, indicaram que tanto o mel de cacau como os cosméticos contendo essa matéria-prima não causaram irritação cutânea. Além disso, promoveram a regeneração celular”, explica.
Ambos os cosméticos com resíduos de cacau foram classificados com grau 1, o que significa serem formulados com propriedades básicas. Sendo assim, já estão aptos a serem comercializados de acordo a Anvisa, mediante aos testes finais complementares, que confirmam seu funcionamento antissinais e antiacne.
“Nossos cosméticos com resíduos de cacau diminuem o impacto ambiental em duas frentes. Primeiro porque são ingredientes naturais e resíduos agrícolas. Segundo porque são biodegradáveis e, ao contrário daqueles que possuem derivados de petróleo em sua formulação, não contaminam água e solo ao descer pelo ralo nas cidades grandes”, afirma Fábio.
O pesquisador atualmente busca iniciar os processos de comercialização dos produtos, estruturando o setor financeiro, tributário, de vendas, logística e marketing da futura marca de cosméticos com resíduos de cacau. Após a produção e venda em larga escala, Fábio pretende se manter em contato próximo com as lavouras.
Isso porque a venda da casca do fruto para a startup, contribuirá para o incremento da renda dos produtores (que geralmente comercializam apenas a amêndoa da fruta), que deixarão de lado a necessidade de comprar produtos para tratar o resíduo, evitando a proliferação de pragas na plantação da fruta.
