A agricultura sustentável está prestes a entrar em uma nova dimensão – a oceânica. Graças à biotecnologia, podemos estar à beira de um tempo em que os campos de arroz poderiam ser cultivados no mar. Dois biocientistas canadenses, Luke Young e Rory Hornby, estão a frente deste desenvolvimento revolucionário.
A dupla é a força motriz por trás da startup Alora, que através do uso de métodos de engenharia genética, estão desenvolvendo plantas tolerantes à salinidade. O foco de seu trabalho tem sido o arroz. O grão, base alimentar para metade da população global, ou cerca de 3,9 bilhões de pessoas, é particularmente sensível ao sal.
A ambição dos cientistas não é apenas aumentar a produção agrícola, mas também torná-la mais sustentável. A maior parte das bactérias que causam a emissão de gases de efeito estufa não sobrevive em ambientes salinos.
O avanço da empresa canadense tem sido possível devido ao recurso à tecnologia CRISPR. Esta técnica, que permite a edição de partes específicas da sequência de DNA, rendeu o Prêmio Nobel de Química em 2020 a suas idealizadoras, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna.
Graças a isso, a Alora conseguiu criar plantas que resistem a concentrações de até 16 gramas de cloreto de sódio por litro de água. Agora, a startup visa desenvolver variantes de arroz ainda mais resistentes, com o objetivo de ter plantas que prosperam em soluções com 28 a 32 gramas, equiparadas à salinidade da água do mar.
Os pesquisadores descobriram que o arroz possui genes comuns às espécies halófitas, que são adaptadas à vida salgada. Esses genes, no entanto, estão inativos no arroz, e a equipe da Alora está trabalhando para “ativá-los”.
O atual contexto de mudanças climáticas e população crescente impõe a necessidade desses avanços. As terras cultiváveis estão sendo afetadas pela desertificação e salinização. O nível do mar, devido ao aquecimento global, começa a subir, contaminando os lençóis freáticos e salgando o solo.
Enquanto Young e Hornby focam na agricultura oceânica, plantas mais resistentes ao sal também poderiam oferecer uma opção viável para cultivo em terra. Atualmente, a Alora tem um projeto-piloto em Cingapura, cultivando diretamente na superfície do Oceano Índico.
A empresa atraiu atenção de investidores, angariando cerca de US$ 4 milhões desde seu lançamento. Entre os apoiadores estão Toyota Ventures, Sustainable Oceans Alliance e Mistletoe.