Segundo estimativas realizadas pela plataforma Sampa Mais Rural, são ao todo 273 hortas comunitárias espalhadas pela cidade de São Paulo. Todas elas lutam bravamente contra a urbanização da quarta maior cidade do mundo.
E muito mais que a comunhão entre moradores e voluntários, as hortas são exemplos do espírito comunitário e solidário, onde, em simultâneo, ajudam a produzir alimento saudável para a população.
A plataforma Sampa Mais Rural tem o objetivo de perpetuar esse espírito, ao reunir iniciativas de agricultura, alimentação saudável e turismo, fornecendo a localização das hortas distribuídas pela cidade.
A Força das Hortas Comunitárias
A horta Bosque das Mandalas — cedida pela empresa de energia (Enel), proprietária do terreno —, é uma das tantas hortas comunitárias espalhadas por SP que proporcionam a experiência única e gratificante do manejo com plantas para as comunidades.
Com 5 anos de existência, o bosque é um espaço de 1300 m² com cerca de 50 árvores frutíferas, uma variedade de hortaliças, PANCs, ervas medicinais e flores; em meio a um cenário de cimento. Clélia Carretero (63), uma das idealizadoras da horta, afirma que existem mais de 200 espécies não catalogadas somente na pequena área.
“A agrônoma Débora Ota, que mora aqui ao lado, deu muitas dicas de Pancs — plantas alimentícias não convencionais. Ela disse: ‘planta taioba, que pode usar como couve’. No ano retrasado, conhecemos mais uma turma que quis trabalhar com tijolinho de bioconstrução, e erguemos essa parede. Tudo tem um pouco de cada pessoa que mora no bairro”, comemora.
Edilane de Souza (33), conhecida como Dila, trabalha como cuidadora de Sueli Albano, 73 anos. Há um ano vive em um apartamento ao lado da horta e traz consigo a senhora idosa para aproveitar o verde e a sombra do local. Durante os descansos de Sueli, Dila ajuda outras companheiras no trato da horta, retirando mato, colhendo alimentos e plantando novas mudas.
“Eu acho uma maneira bonita de ajudar, ser voluntária, ajudar as pessoas. E adoro trabalhar com a terra”, confessa. Clélia conta que o trabalho é feito em mutirão e é preciso sempre divulgar para que mais pessoas participem dessa ou de outras hortas comunitárias. “É trabalho de formiguinha. Usamos as redes sociais”, conta.
Já Ana Borba (82), é a mais experiente da turma. Com um facão na mão e muita disposição, mostra orgulhosa seus feitos: “Plantei uma bananeira ontem, daquele pé de café, eu já fiz o pó e dei uma colher de sopa para cada um aqui. Fiz colorau com urucum, cará chinês é bom para regular diabetes e, com romã, você melhora a garganta”.
O passeio pela horta mostrou que tudo ali tinha muito da sabedoria da Ana. Ela diz que o local é um reencontro com a infância, quando morava numa fazenda. “Moro ali, o pessoal diz que eu sou a vigia da horta”, brinca, apontando para a janela do prédio em que vive.
Hortas da Agricultura Urbana é Fonte De Estudos
Dentre as diversas iniciativas promovidas pelas hortas comunitárias, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontraram na atividade, um objeto de estudo de peso sobre agricultura urbana.
Para isso, foi criado o Grupo de Estudos em Agricultura Urbana (GEAU) — sob coordenação da professora Thais Mauad, especialista em saúde urbana e pesquisadora do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FMUSP).
Para concretizar as pesquisas e somar as tantas outras hortas comunitárias da cidade, Mauad também fundou a própria horta da faculdade, que hoje completa oito anos de funcionamento.
“É um local de aprendizado. Sempre falo que é um lugar muito horizontal, uma grande coisa para uma instituição hierárquica, que tem a figura do professor como detentor de todo o conhecimento. A horta é onde o jardineiro sabe mais do que eu em relação à produção de muita coisa”, explica.
Além das muitas possibilidades de estudos, outra ação relacionada a iniciativa do grupo é a oferta de uma disciplina de medicina culinária com o apoio dos produtos da horta. “É justamente mostrar para o futuro médico a importância da alimentação saudável na gênese e no manejo de doenças”, explica.
A professora afirma que a horta é cuidada por mutirões da comunidade cientifica e do entorno, sendo que o que é produzido, pode ser utilizado para uso próprio.
